sábado, 8 de maio de 2010

Discurso e prática. Analisando o passado, o presente e o futuro

"Alô galera. Alô família vascaína. Esse momento é um momento muito especial, não só para a nossa chapa, mas acho que para todos vocês, toda a família vascaína, porque precisamos, queremos e temos condições de dar a vocês, torcedores do Vasco, aquilo que esperam de uma boa administração, que são os títulos, ver um Vasco forte, competitivo e, se Deus quiser, e ele está querendo, um Vasco campeão. Precisamos do apoio e incentivo de todos vocês. Aquelas pessoas de bem, que querem e podem dar a sua contribuição, que venha para junto de nós. Vamos saber respeitá-lo, ouvir as pessoas, para que a gente possa realmente ter um Vasco forte, competente, mas, acima de tudo, um Vasco mais humano. Nós, a nossa chapa, que tem também grandes vascaínos, grandes nomes, pessoas que já deram e fizeram muito pelo nosso Vasco, e hoje estão aqui, junto com todos vocês, para que a gente possa realmente mudar essa história do Vasco nesses últimos anos. Queremos sim, administrar com competência, respeitar e ser respeitado, para, acima de tudo, ter uma relação com vocês, de respeito, porque levo e tenho isso na minha vida. Joguei 20 anos no Vasco e sempre tratei todo mundo com muito respeito. É isso que peço a todos vocês. A vida de cada um de nós é uma troca. A troca que peço a vocês hoje é isso. Vamos amar e respeitar o nosso Club de Regatas Vasco da Gama. Agora vamos dar aquele grito que é tradicional. Ao Vasco nada? Tudo. Então como é que é, que é, que é? Casaca. Casaca. Casaca, zaca, zaca. A turma é boa, é mesmo da fuzarca. Vasco, Vasco, Vasco!".


Para quem não lembra, esse foi o primeiro discurso de Roberto Dinamite, logo após ser eleito presidente do Vasco da Gama, no dia 28 de Junho de 2008, precisamente as 2h30min da manhã, quando o pleito terminou levando o ex-jogador cruzmaltino ao posto que se encontra hoje.

Ele, Roberto, está próximo de completar dois anos à frente do Vasco da Gama e muito aconteceu desde então. Gostaria de debulhar nessa coluna o seu primeiro discurso como presidente do clube, comparando todo esse tempo que já ficou para trás, com o que aconteceu. Vamos lá.


Momento Especial



“Esse momento é um momento muito especial, não só para a nossa chapa, mas acho que para todos vocês, toda a família vascaína”


Realmente foi um grande momento a vitória de Dinamite naquele pleito tumultuado que retirou do poder o maior câncer que já esteve dirigindo do Vasco; o ex-presidente Eurico Miranda. Nossa torcida vinha muito desacreditada, sem títulos há cinco anos, com montagens de elenco recheadas de jogadores medíocres e campanhas pífias em quase todas as competições que entrava, salvas raras exceções. A maioria dos vascaínos clamava por mudanças. E a esperança no novo ídolo tornou aquela madrugada longa.

Eu mesmo fiquei acordado de ouvido no rádio à espera do fim das eleições. Com a vitória de Dinamite, a expectativa da torcida aumentou e a luz do fim do túnel finalmente aparecera. Afinal, o ídolo máximo da história do clube – que também sofreu nas mãos da antiga administração – tinha realmente alma e sangue cruzmaltinos, eterno clamor da torcida que colocava isso me xeque a cada tropeço da antiga diretoria.


A queda


O inevitável rebaixamento foi o primeiro grande desafio em relação ao futebol, enfrentado pela diretoria. Mas a torcida se colocou à disposição a cada pedido de incentivo do presidente, lotando estádios, comprando camisas, associando-se, lutando com o time a cada jogo, com isso, a já esperada volta à elite se consolidou. As circunstâncias não possibilitaram ao novo presidente por em prática suas palavras, de “ver um Vasco forte, competitivo e, se Deus quiser, e ele está querendo, um Vasco campeão”. E não me diga que foi campeão da série B, pois aquele pesadelo era obrigação e não foi título, e sim acesso.

Se pudéssemos colocar um placar entre Dinamite x Torcida, cada um fazendo sua parte, tendo dentro de suas possibilidades, diríamos aqui que deu empate. A torcida fez a sua parte, e a diretoria, apesar das circunstâncias, montou um time vencedor, da série B, mas cumpriu sua obrigação.


Competência, respeito, blá blá blá...


“Queremos sim, administrar com competência, respeitar e ser respeitado, para, acima de tudo, ter uma relação com vocês, de respeito, porque levo e tenho isso na minha vida”


Competência. Felizmente o Vasco conseguiu após anos um contrato de patrocínio aceitável de acordo com sua grandeza. A Eletrobrás veio graças ao competente grupo que Dinamite montou em sua diretoria. Investimentos, programa de sócio, contrato decente com fornecedora de material - lembre-se também da trapalhada histórica da Champs – e tudo o mais para reestruturar financeiramente o clube foi feito. Dinamite 2 x 1.

Demora na obtenção das Certidões negativas para receber o patrocínio estatal? Contrato horroroso com o Habbib’s – feito por Eurico – e nem na justiça consegue se desvencilhar, venda de jovens craques (Alex Teixeira, Allan Kardec...) e cadê o retorno desse dinheiro? Dinamite 2 x 2 Torcida. E os casos de Élton e Ramon? Dois jogares importantíssimos na campanha de 2009, deixa-os sair e depois volta para buscar? Sem falar no técnico Dorival Jr., que afirmou categoricamente que não queria sair, e mesmo assim a diretoria manteve seu discurso de “equilíbrio administrativo”, e paga salários enormes à atuais jogadores que não correspondem em campo, vide o peculiar perna-de-pau Élder Granja? O que parece é que o projeto era bom desde o início, mas o comandante da Nau Vascaína perdeu o leme.

A trupe do Dinamite está sem rumo, e o Vasco parece estar voltando para um caminho já conhecido pela torcida, o qual tinha depositado suas fichas em seu ídolo-presidente para nunca mais pisar na antiga, tortuosa e sofrível estrada.


Trocando seis por meia dúzia


“A vida de cada um de nós é uma troca. A troca que peço a vocês hoje é isso. Vamos amar e respeitar o nosso Club de Regatas Vasco da Gama”


No primeiro momento, a torcida trocou o sofrimento pela esperança; depois a vergonha do rebaixamento pelo amor infinito; em seguida os pedidos da diretoria por colaboração e prontidão; o dinheiro suado por apoio financeiro; e muitas outras trocas. Porém, a pior delas pode estar por perto se a recuperação da grandeza do Vasco não acontecer. A percepção que a troca da diretoria não passou de um velho jargão do futebol: a troca de seis por meia dúzia. Levando ao nosso placar fictício de volta à estaca zero.


Placar final: Dinamite 0 x 0 Torcida. Traduzindo: Vasco sai perdendo novamente.

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